26 de fevereiro de 2015

‘Pegava livro no lixo para ele ler’, diz mãe de 1º lugar geral no IFRN.

A catadora de lixo Rosângela Marinho se emociona ao lembrar que levava livros achados no lixo para os filhos estudarem em casa. “Eu trazia os livros que os ricos jogavam no lixo e trazia pra casa. Eu dava pra eles aqueles livros bonitinhos e colocava eles pra estudarem. Aí eu incentivei eles a gostarem de livro”, conta. A atitude contribuiu para a alegria que ela vive hoje: o filho Thompson Vitor, de 15 anos, foi o primeiro lugar geral no exame de seleção do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e vai cursar Multimídia em 2015.

Tanto o pai, quanto a mãe de Thompson não concluíram o ensino fundamental. A família mora em uma casa simples no Paço da Pátria, na Zona Leste de Natal. O garoto estudou na Escola Freinet como bolsista durante todo o ensino fundamental e atribuiu o êxito no exame de seleção ao gosto pelo estudo. “Eu não estudo por obrigação. Pra mim o estudo é uma arte. Eu estudo pra alimentar minha mente de conhecimento”, disse.

Para se dedicar apenas aos estudos, o garoto muitas vezes teve que contrariar a vontade dos pais que, segundo o próprio, queriam que ele trabalhasse para ajudar a família. “Eles querem que eu tenha um trabalho cedo. Eu sempre falo que eu preciso me dedicar aos estudos. Eu até ajudo minha mãe no trabalho dela, mas desde que não atrapalhe meus estudos”, acrescenta Thompson.

É por eles também que o garoto pretende priorizar os estudos enquanto puder. “Eu tenho muito orgulho dos meus pais. Sei o quanto eles sofreram para me criar. Não só a mim, mas também meus irmãos. Eles superaram as adversidades da vida, os problemas financeiros e abriram mão de seus momentos de prazer pra cuidar de todos nós com amor e zelo. Eu quero ser o orgulho da família”, afirma.

A aprovação no IFRN parece ser apenas o começo para o menino que sonha em melhorar a vida da família. Após o curso de Multimídia, o sonho é fazer faculdade de Direito e se tornar advogado. “Eu acredito que o mercado de trabalho hoje está muito restrito a pessoas com qualificação. Através do IFRN, conseguirei ao mesmo tempo estudar as disciplinas do ensino médio e me qualificar profissionalmente através do ensino técnico. Eu pretendo concluir o curso de Multimídia, fazer a prova do Enem e ingressar na UFRN para cursar Direito”, ressalta.



Adaptado com o G1